sexta-feira, 5 de março de 2010

ÓPERA(ÇÃO) EM VIII ACTOS


acto I
Uma lettera arriva por correio. É um vale-operação para a Maria. Pode ser descontado em Vila do Conde, Setúbal e uma cidade do Alentejo entretanto esquecida. Mamã pergunta ao cirurgião da Estefânia: que facciamo? Cirurgião rispondi: “Trova si el doctore Barber opera in Setubaliiii”. Si, qui opera! Alora, vamos a isso!
acto II
Família em coche, próprio e sem conductore alheio, rumo a Setúbal. Tutti pasmado pelo caminho. Dr. Barber recebe Maria e diz-lhe “Viene al tio!”. Explica tudo aos pais, com direito a desenho. E agora, regresso e a despachar!
acto III
Dias seguintes: recolher papel credencial para análises no Centro de Saúde. Tirare el sangre. Maria chora pouco no momento, muito na espera que lhe tragam um penso para aplicar. Levantare resultatti.
acto IV
Rumar a Setubaliiii e pernoitare. Notte de folia. Maria adora o novo berço. Rebola, agita-se, levanta-se e deita-se. Faz sons de cavalos e vacas e mémés que estão no lençol. Acalma à meia-noite quando papis apagam a luz.
acto V
La operaccione começa di matina, pouco depois das oito. Papi entra para bloco de operaccione e auxilia a anestesia da filha. O anestesista troca uma piada com o pai. Com graça. Bom rigoletto. Papis esperam sem desespero. Doctore chama-os e explica como tutto se à passato. Benne. Mostra a tripa (quistos) que tirou do pescoço da Maria. Mãe é primeira a entrar para o recobro. Passados alguns minutos, surge a excepção: o pai também pode entrar que la figlia está a pedi-lo.
acto VI
Acorda do sono com fome. Bebe leite e não deixa fazer a pausa prevista. Alora? Mais lette! E sopa. Tutto encaminato. Falta fazer um xixi. Ei-lo. Permissione para regressare à casa. De coche, com chuva pelo caminho. São 18 horas.
acto VII
Dias passam sem papis darem conta de que Maria foi operada. Benne disposta, brinca e recebe visitas no fim de semana, acerta os sonos, e segunda regressa à escola.
actoVIII
Ah, bravo Maria!
Bravo, bravissimo!
Fortunatissima per verità!
Pronta a fare tutto,
la notte e il giorno
sempre d'intorno in giro sta.
FINE

libretto di Papi (que não sabe escrever italiani)

quarta-feira, 3 de março de 2010

VEM ESTIVILLIZAR... OU TALVEZ NÃO


Ontem assisti na RTP2 a uma entrevista do famoso pediatra neurofisiológico Eduard Estivill. Não o conhecia "pessoalmente" e engracei logo com aquele lado catalão de nos tratar à vontade, sem grandes deferências ou arrogâncias doutorais (nós continuamos dos países mais atrasados nisto de usar títulos catedráticos e profissionais como se estivéssemos nas cortes medievais). A minha introdução ao senhor Estivill foi relativamente recente. Pais preocupados com a dependência da Maria do carrinho de rua para adormecer e rejeição automática da cama caso não estivesse em sono profundo, recolhemos informação, lê-mos e decidimos aplicar o método Estivill para o sono.

Foi por isso que ontem ouvi deleitado os estudos e descobertas científicas que sustentam as medidas preconizadas no livro-método e que tanta celeuma levantam entre pais e mães e, ao que parece, alguns pediatras e outros especialistas. Estivill lá dizia ao entrevistador (que a certa altura assumiu uma postura de advogado do diabo, citando mesmo um testemunho recolhido na Internet de uma mãe "ofendida" pelo método) que não era "um pregador, um guru". Que apenas relatava os factos das suas descobertas, para quem os quisesse seguir.

Nós seguimos. E por muito que nos tenham custado os primeiros três ou quatro dias de braço de ferro com a Maria, estamos contentes por o termos feito. Hoje ela deita-se a horas certas - com um intervalo de tolerância que não torna a coisa demasiado rígida - directamente na cama e sem passar pela casa carrinho de rua ou colo de papá ou mamã (também vivemos esta fase de a adormecer ao colo...). Hoje ela dorme na sua cama e no seu quarto a noite inteira; quando acorda durante a noite, readormece sozinha a maior parte das vezes. Hoje ela é mais autónoma e auto-suficiente do que no passado. Os pais, malvados, já não a embalam horas ao colo até adormecer. Os malandros passam esse tempo a tratar da cozinha ou ver filmes. Os velhacos passam esse tempo em casal, ou nas suas coisas independentes. Enquanto isso ela dorme, sozinha, imersa sem transtorno alheio no reino dos seus sonhos. Como se estivesse num filme de Michel Gondry.

A mãe do testemunho, preciosa aliada do entrevistador (pareceu-me demasiado partidário, alguém confirma?), dizia que nunca deixaria a filha(o?) a chorar por uma questão de conveniência dela. E então, por essa razão, a criança dormia com a mãe. Eu, criança que dormiu no passado na cama da mãe, pergunto-me de quem será efectivamente a conveniência: de uma criança "inocente" que sente as coisas de uma forma só porque (ainda) não foi ensinada/acostumada de outra, ou de uma mãe desamparada a quem sabe bem o carinho e apego incondicional de um filho?

No meu caso, sobre os efeitos, basta-me dizer uma coisa: quem me dera terem-me ministrado o método Estivill...

P.S. - Independentemente disso, esta é daquelas revelações que um dia a Maria certamente nos irá questionar. Mas e então: ser pai e mãe não é aceitar o jogo de tentar ser o melhor possível, sabendo que nunca seremos perfeitos? Por isso, minha menina, volta lá para a tua cama no teu quartinho, se faz favor como os papás te ensinaram quando eras pequenina. Mas antes levas um beijinho e um abraço apertado.

segunda-feira, 1 de março de 2010

SINAL VERDE... E VERMELHO


Resisti quase 20 anos a ficar atrás de um volante (só se fosse no banco traseiro). A AV também já andava na década e picos de resistência. Ainda estou por perceber como é que uma bebé de 16 meses acabou, quase de repente, com princípios de vida tão enraizados. Pois que a mãe lá pôs na cabeça que era preciso voltar a conduzir, teve lições (oficiais e familiares), comprou o carro e meteu-se à estrada. Mesmo sem pressão, o pai achou que também devia fazer o esforço e de um casal que não conduzia passou-se, num instante, para um casal condutor. A mudança é tão grande que uma ida ao Lidl ou ao Jumbo assume proporções de acontecimento. E a "culpada" lá está, alegre por ir sair outra vez e a obrigar os pais a terem sempre programa para o fim-de-semana. Mal a vestimos e começamos a dizer que vamos sair, rasga-se um sorriso naquela boca pequenina. Ontem até se pôs logo ao pé da porta, enquanto ultimávamos os preparativos, não nos fossemos esquecer de a levar. E como prova de que de facto os pais fazem tudo pelos filhos, o nosso carro está agora equipada com uma linda cadeira de bebé totalmente vermelha. O Benfica, mesmo em casa alheia, está mesmo forte...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

MAIS UMA PARA A ESTATÍSTICA


Os desportos têm estatísticas para tudo e para nada. Num jogo de futebol contabilizam-se passes certos e errados, recuperações e perdas de bola, remates à baliza e para fora, quilómetros percorridos... Gostava de ver isso aplicado à parentalidade. Por exemplo, hoje, gostava de ter sabido o seguinte:

- total de biberões de leite já dei à Maria
- total de fraldas mudadas (divididas em "com cocó" e "sem cocó")
- total de miligramas de cremes aplicados (divididos em tipo de creme e partes do corpo)

Isto sim, parecem-me informações importantes e pertinentes. Mas nada de comparativos com a mamã, que dá-me abadas em todas as alíneas.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

DESLIGAR A TOMADA

O átrio do prédio onde moro é uma espécie de amplificador acústico do que se passa nas escadas. Hoje acordei com a habitual algazarra de porteira, miúdo de que toma conta (um tal de João que as más-línguas rotulam erroneamente de futuro namorado da Maria), e companhia de empregadas domésticas, carteiros, inquilinos e outra gente que por lá pára. Agradeci silenciosamente o facto pois acertara mal o despertador. Depois ainda fiquei mais contente quando saí com a Maria rumo à escola, passando pelo átrio vazio e evitando assim de ouvir o habitual comentário da porteira ao resto da plateia: "Haviam de os os ver a rirem-se um para o outro! É uma beleza!"

Eu juro que isso só aconteceu uma vez. E foi há cinco ou seis meses. O pior é que não este amplificador acústico não tem ficha para desligar da tomada. uffff

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

PALAVRAS (CERTAS) PARA QUÊ?

A palavra "mamã" serviu, a certa altura, para a Maria chamar ou referir-se à mãe e também ao pai. Tudo corrido a "mamã", portanto, que aqui não há diferenciação de género! Hoje de manhã, parece ter começado a reprogramação do "papá". Não estou triste. Afinal de contas, só venho depois de "bebé, "luz", "ão ão" (cão), "pé", "ó-ó" (fronha para adormecer), "xux" (chucha) e uma espécie de "sa-pa-to".

terça-feira, 3 de novembro de 2009

O PRIMEIRO ANIVERSÁRIO

Da Maria que não do blogue. Há um ano que a Maria está presente nas nossas vidas, pelo menos no formato "ao vivo e a cores" (sem ser em fotografias ou vídeos 3D...). Aqui se foi dando conta de um ou outro desenvolvimento da bebé, uma ou outra reflexão sobre a parentalidade. Com visíveis limitações ou divisões sobre a colocação de fotografias ou a revelação de intimidades. O equilíbrio mostrou-se sempre instável, interna e externamente, com avanços e recuos, dúvidas e poucas certezas.
Ainda assim, emergiu um dogma deste "ano" bloguista. A Maria, claro está, intocável no posto de papel principal que agora assume em, pelo menos, duas vidas. A festa comemorativa teve muita gente, com destaque para a gloriosa presença de três bisavós (ainda há uma quarta que não pôde vir). É obra para gente ainda tão pequena. Mesmo se tentasse não conseguiria descrever como a Maria ensinou os pais o que é uma anfitriã. Bem-disposta do primeiro ao último minuto. Sem recuos, dúvidas ou limitações.
Poderia ser uma lição para o papá. Mas é mais um motivo de reflexão e questionamento. Não me parece por isso existir melhor altura (e post) do que este para iniciar uma pausa. Que, como se diz na descrição deste 1pai100palavras, espera-se limitado às palavras escritas.

UM ANO, CINCO MOMENTOS

No momento em que passou um ano de Maria, eis cinco momentos que enternecem o papá.

1 - Quando a Maria encosta a cabeça no meu ombro e ali fica segundos que parecem horas.
2 - Quando a Maria, antes de adormecer deitada no carrinho, se dedica a contemplar-me.
3 - Quando a Maria espeta o indicador para estabelecer contacto (ao estilo do "E.T. - O Extra-terrestre").
4 - Quando a Maria estica os braços a pedir colo.
5 - Quando a Maria passeia no carrinho e olha para trás, a "pedir-me" um beijo na testa.

Paro a marcha do carrinho, abro um sorriso, debruço-me sobre ela, beijo-a demoradamente na testa. O tempo suspende-se. Ela sorri e volta a olhar em frente para a paisagem que a espera. Os segundos voltam a passar e o caminho volta a ser caminho.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

MOMENTOS EM FAMÍLIA


Numa entrevista já antiga do Pedro Bidarra, director criativo da BBDO, ao jornal i, os conceitos da publicidade misturam-se com as vivências familiares. E, de repente, pode soar um sinal de alerta para passarmos (ainda) menos tempo à frente do televisor. Ou em frente do televisor, quem sabe, a tentar estabelecer pontes. Seja como for, por enquanto ainda resistimos a instalar uma televisão na cozinha. Na hora das refeições ouve-se música. Ou o silêncio entre as palavras.

"Mesmo numa casa onde viva um homem, uma mulher e uma criança, é difícil aquela família partilhar as mesmas coisas. Estou a falar de experiências de comunicação e de entretenimento. É muito difícil que uma filha partilhe a mesma coisa que a mãe ou o pai. Com tantas referências, a pessoa tende a criar conteúdos e assuntos que viajam em diferentes meios. Depois há uma televisão em cada quarto, há Internet, outros estímulos. Cada um está fechado no seu mundo. Felizmente, ainda há pontos de contacto, mas é preciso procurá-los."

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

PRIMEIRA PALAVRA

Num clara demonstração de ausência egocêntrica e de contenção conflituosa, o concílio parental da Maria declarou, este fim de semana, qual a primeira palavra proferida pela bebé. Estiveram em cima da mesa os clássicos "ma...ma" e "pa...pa", com respectivas derivações "mããã" e "pááá". Foram vencidos pelo simples "Olá!".
Ainda assim, há discussões sobre a grafia, qual acordo ortográfico português. Estará o ponto de exclamação a mais? Provavelmente sim. E o som emitido parece-se mais com "olháaaa...". Mas sobre o intuito, disso não existem dúvidas. "Olhá" para a mãe, para o pai, para os quadros do Carlos Gardel, Corto Maltese e gatinhos, "olhás" repetidos consecutivamente para obter resposta semelhante.
Veio em boa altura a aprendizagem. A ver se ela a consegue pôr em prática na recepção aos convidados da festa comemorativa do ano um. O pai ainda vai tentar ensinar em tempo útil outra palavrinha que pode dar jeito: "Adeus!"