segunda-feira, 31 de agosto de 2009

PÓS-PARTO RESISTENTE

Há ainda um terceiro capítulo associado ao parto da Maria. É o pós-parto prolongado, perpetuado além das nossas vontades e capacidades. Tudo porque não resolvem a situação da AV, que anda num vai e vem entre o hospital e casa. Primeiro é a Natureza que há-de resolver o problema. A senhora dita cuja não aparece. Depois é um medicamento que expelirá os excedentes, com dores tipo parto pelo meio.
É dia 11 de Novembro. A Maria ainda não tem 15 dias e acabou de vir da primeira consulta no pediatra. A mãe desloca-se ao hospital ver onde param as coisas indesejáveis. É hora de jantar quando recebo o telefonema. Precisa de ficar internada para efectuar a intervenção anteriormente adiada. A minha tarefa será menos dolorosa. Cuidar da Maria durante essa noite.
Asseguro-lhe que esteja descansada. A retaguarda está assegurada. Assim que ela desliga deixo o meu medo descontrolar-se durante uns minutos. Esvazio parte da pressão e preparo-me para a noite longa. Eu e a Maria, sozinhos no mundo.
O tempo custa a passar ainda mais do que na noite do parto. Ao princípio, cada minuto são sessenta segundos de incógnita sobre o estado da AV. É preciso controlar a ansiedade e não deixar que se transmita à bebé. A Maria colabora como pode. Para meu alívio, bebe o primeiro biberão preparado pelo pai. Mas passa uma noite agitada. Acorda várias vezes, chora bastante, é difícil acalmá-la. Há demasiadas interrogações na minha cabeça. Será fome? São cólicas? Está irritada? Sente a falta da mãe? É fralda outra vez? Tem sono? Está com frio? Ou será calor? O que faço? Como faço?
Agarro-me à ideia de que cada minuto vencido é mais um minuto próximo da reunião com a AV. Sinto falta de duas mães. A da Maria e a minha. Resgato forças e vontades desconhecidas à memória da minha mãe para cuidar da minha filha. E nas alturas em que sinto as minhas energias a esgotarem-se, é nesses precisos momentos que a Maria sossega. E adormecemos os dois, protegidos por um cordão invisível que parece ter-se enrodilhado à nossa volta. Um cordão formado por amor à distância, emanado de uma mãe recente internada num hospital e uma mãe antiga espalhada num rio.
De madrugada sossego com a notícia que finalmente chega do hospital. Dizem-me que a intervenção correu bem. Mas agora é preciso repouso, para a mãe recuperar da perda de sangue e da anemia diagnosticada. Significado? Mais umas horas de espera. Só a meio da manhã é que a família se unifica outra vez. Passaram mais de 12 horas que pareceram anos. Resistimos contra ventos e marés (e muita gente próxima acrescenta o termo “negligência médica”). Superamos o teste. Já nada mais interessa. Nem queremos pensar em apresentar queixa, gritar alto o acontecido, para que quem de direito entenda a dor – física e emocional – provocada.
As olheiras que vincam os nossos rostos não conseguem iludir o estado de graça em que, apesar de tudo, vivemos. A verdade é que não temos tempo a perder. Por isso, decidimos aplicar todos os preciosos minutos na tarefa de cuidar da Maria. Perdemo-nos no rosto sereno dela enquanto dorme. Aproveitamos para nos enroscarmos na nossa cama, agora com uma alcofa acoplada. E adormecemos com a consciência tranquila. Porque quando acordarmos, sabemos que vamos voltar a chorar. De felicidade.

3 comentários:

Anónimo disse...

lindoooooooo!!!!!!!!!!!!!
bjos
Ângela

Unknown disse...

Paulo, ainda não tinha feito nenhum comentário desde que iniciaste a escrita aqui mas já tinha dito à Andreia e acho que já está em altura de dizer... adoro o teu blog!! Beijinhos para os 3
Márcia

Paulo M. Morais disse...

Obrigado Márcia! Que seja uma viagem agradável, tal como está a ser a minha. Até a Maria aprender a ler e me der na cabeça acerca do que escrevi sobre ela, eheh.

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PMM