terça-feira, 1 de setembro de 2009

EVOLUÇÕES CAMALEÓNICAS


Uma semana de férias para a Maria aprender o que é a praia. Tempo mais do que suficiente. Isso se não estivéssemos a falar de Peniche, cidade “insular” cujo clima é capaz de ser o mais peculiar de Portugal continental. Céu limpo e temperaturas abrasadoras em Lisboa? Nevoeiro compacto e vento frio em Peniche. E assim se passa uma semana, com diferenças no termómetro a rondarem os dez graus (a menos do que no resto do país, claro está), e escassas abertas para a praia. Fomos uma vez com a Maria. Estava muita gente em redor mas depois de uns dias em família alargada ela já estava habituada a grandes barafundas. O contacto com a areia, primeiro os pés depois as mãos, revelou-se incómodo. Melhor foi o mar, primeiro a banhar os pés, depois num olhar atento para o correr das ondas em direcção ao areal. Estava ao colo do pai, com um braço em redor do pescoço e uma mão a puxar os pelos do peito, aprendizagem recente e dolorosa para a facção paternal.
Com mais tempo para apreciarmos as evoluções, a semana findou com um saldo negativo de praia mas com mais uma série de “já-sei-fazer”. Não interessa muito se vieram tarde ou cedo. Interessa que já cá estão. A mão a tirar as meias e depois a agitá-las no ar num sinal de conquista e satisfação. Os braços estendidos para pedir o colo do pai ou da mãe. O corpo a rebolar na cama até ficar de gatas, sem começar logo a chorar por não saber o que fazer. A boca a receber e apreciar uma sopa de feijão e uma açorda de alho preparadas pela avó materna. As mãos a repetirem gestos propostos pelos adultos (do clássico “põe põe a galinha o ovo / prá Maria papar todo” até ao misterioso “cassapinho andou andou / debaixo d’água não se afogou”).
E o coração a descobrir o ciúme sempre que o pai abraçava a prima de cinco anos. De repente, sinto-me um objecto pertença da Maria. Não deve tardar muito até que me obrigue a ficar no saco de brinquedos, devidamente (res)guardado do resto do mundo. Regressado a casa, entrei em estágio. Estou a preparar-me para disputar arduamente cada centímetro de espaço dentro do saco azul com o camaleão gigante.

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