segunda-feira, 21 de setembro de 2009

PEDIATRA LARGUEIRÃO


Escolher um pediatra é como escolher roupa ou sapatos. Há quem goste de camisolas largueironas, há quem prefira calças justinhas. Mas além da questão do mero gosto, é importante que a roupa assente bem. Que esteja de acordo com a pessoa e não provoque uma sensação incómoda. Assim, faz pouco sentido escolher um pediatra rígido quando somos uma pessoa que tende para o liberal. Da mesma forma que não será produtivo seleccionar um pediatra “despreocupado” quando se prefere e necessita de regras definidas e estanques.
Abordámos a escolha do pediatra da Maria na procura de um equilíbrio. Por um lado era urgente mostrar ao pai a necessidade de determinar e cumprir algumas regras; por outro era crucial revelar à mãe que nem tudo precisa de ser controlado a régua e esquadro. O pediatra da Maria assentou como uma luva. Desde a primeira consulta que o dr. Luís Pinheiro retirou imenso peso dos nossos ombros nesta tarefa exigente e difícil de criar uma criança. Às vezes saíamos do consultório com a sensação de que a Maria quase se iria criar sozinha.
Nos momentos de (relativa) aflição, devo dizer que ansiámos por directrizes claras e inequívocas. Houve alturas em que as obtivemos. Mas na maioria do tempo, aplicámos o bom senso tantas vezes preconizado, misturado com leituras de manuais de pediatria [os fóruns de mães foram colocados para segundo plano, face a tanto disparate que lá se pode aprender no meio de algumas dicas úteis]. E, acima de tudo, uma grande descontracção. Ou talvez a mera constatação de que, independentemente do nosso desejo, a Maria irá volta e meia ter febre, tosse e nariz entupido. Vai ter dores de dentes e de barriga. Vai chorar, por muito que isso nos custe. Afinal, a nossa filha não é a super-mulher. Também é humana como nós.
Em conjunto com o trabalho dedicado e carinhoso da nossa médica e enfermeira de família do centro de saúde, a verdade é que a Maria tem sido criada num ambiente de regras sem demasiadas… regras. Principalmente tem sido criada num ambiente sem dogmas castradores, receios exagerados, redomas assépticas. Tem sido criada por uns pais humanos, que erram e acertam nas acções tomadas, mas que procuram munir-se de informação fidedigna para aliar o lado racional à vertente emocional.
Temos assim um pediatra adequado porque nos dá confiança para agir autonomamente, dentro de certas linhas orientadoras generalistas. Este voto de confiança nas capacidades e discernimento dos pais para criar um filho, esta responsabilização do lado parental, tem gerado uma sensação de bem-estar, a par de um espírito positivo. Um auxílio precioso para que a Maria não seja apenas um mar de cadilhos. Graças a esta atitude pedagógica, guardamos as nossas preocupações sérias para quando surgirem problemas… sérios. Porque isto é uma lotaria. E como nunca sabemos o que nos calha na rifa, o melhor é procurar viver como se todas as semanas ganhássemos o primeiro prémio.
Nem sempre é fácil ou possível aplicar esta fórmula do “carpe diem” a tudo na nossa vida. Mas com a ajuda educacional do nosso pediatra e da nossa médica, com a Maria tem sido assim mesmo. E nas semanas mais complicadas, se não acertamos nos seis números mágicos, acertamos pelo menos em três. A Maria tem dado sempre prémio. Qualquer dia estamos milionários.

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