sexta-feira, 26 de junho de 2009

CONTROLE ABSOLUTO


Vou fazer de advogado do diabo, mas porque sou medroso vou ali buscar ajuda de um dos homens mais durões do cinema: o Clint. Numa entrevista publicada na Esquire, o senhor Eastwood recorda a visita a uma enorme cascata num glaciar islandês. Adultos e crianças assistiam ao espectáculo a partir de uma plataforma rochosa. Apenas um corrimão os separava do abismo. Clint pensou que, nos Estados Unidos, aquele local seria “selado” com grades e protecções de todo o tipo, devido ao medo de que alguém caísse e depois ainda aparecesse um advogado “bem” intencionado à procura de sacar dinheiro. Mas ali na Islândia, a mentalidade era como nos velhos tempos da América: “Se caíres, é porque és estúpido.”

A história é engraçada mas é a ideia seguinte que interessa para o caso. “Não podemos evitar tudo de acontecer. Mas chegámos a um ponto em que estamos certamente a tentá-lo. Se um carro não tem quatrocentos airbags, então não presta.”

Com a paternidade passa-se o mesmo. Compreensivelmente, queremos eliminar todas as hipóteses de que algo mau aconteça aos nossos filhos. O receio é tanto que instalamos airbags por todo o sítio. Das simples protecções para as esquinas das mesas e tomadas eléctricas, ao aparelho para monitorar a respiração do bebé que dorme. Ficamos obcecados pelo controle absoluto do ambiente físico em que os nossos filhos gravitam.

Mas mais que isso, agora também se procura acolchoar o lado emocional das crianças. Nada de lhe mostrar a faceta triste e sombria da vida, quanto mais pensar ou divulgar a ideia de que ela é... finita. O mundo ocidental lida mal com a perda. Gostamos da ideia propagada pela medicina de que seremos todos eternos. E adoramos pensar que os nossos esforços eliminam o incontrolável. Quando no fundo, só existe uma única certeza a partir do momento em que nascemos.

Qual é? A de que se amanhã este blogue não apresentar um post com piada (suposta e sujeita a confirmação, claro), ainda chamam o Clint para dar cabo de mim ao velho estilo americano.

1 comentário:

Morais disse...

Bem construído e desenhado este post.. é o que te têm ensinado, a experiência, ainda recente, de seres papá? :P

Grande Abraço!