sexta-feira, 12 de junho de 2009

ZOOM INDISCRETO

Nas primeiras ecografias, o “feijanito” (mas quem inventou estes termos a pensar que seriam uma forma mais ternurenta de tratar o embrião?) não mostrou nada do que queríamos saber. Ambas inconclusivas, não só pelo curto tempo de gestação mas também por uma arte própria do “girino” (esta é minha, mas não é menos parva) esconderem o sexo do aparelhinho que passeava pela barriga da mãe. Por essa altura, pelo sim pelo não, auto convenci-me de que era um menino. Até porque já estava avisado de que não se podia devolver o bebé à procedência caso se confirmasse ser um rapaz. E lá andava eu a criar laços com o matulão, pensando nas três ou quatro vantagens em relação às raparigas: jogar videojogos na consola, dar uns pontapés na bola, assistir aos Jogos Olímpicos. Só me importavam imagens estereotipadas. Nunca uma menina se interessaria ou faria tão bem estas coisas, nem pensar, ufa, ainda bem que vem aí um gajo.

- É uma muchacha! – disse o obstetra na consulta seguinte (ele todo vestidinho de um branco imaculado, da camisa aos sapatos).
- Mas tem a certeza doutor? – perguntei ansioso.
- Claro! Não estão aqui a ver a rachola?

Acreditem que ele utilizou esta expressão. E ainda por cima fez zoom. E lá estávamos; ela enorme, quase tão grande como a minha boca aberta de espanto. Foi a primeira vez que falou comigo: “Achas bem que esteja assim aqui exposta?!? Vais ficar aí especado?!?” Caramba, de facto, que falta de decência! A imagem incomodou-me. “Ó senhor doutor, por favor, não acha que já chega? Também não é preciso mostrar isso assim, francamente...” As frases ficaram só pelo pensamento. Afinal este era o médico que nos iria assistir até ao final da gravidez. Desviei o olhar, meio envergonhado, enquanto a rachola não saiu do ecrã... Quando voltei a mirar o risquinho preto e branco no ecrã, juro que ele me pareceu ter afirmado: “E não disseste nada. Fraquinho, és fraquinho...”

2 comentários:

Carla Ganito disse...

De facto começamos logo a ser invadidos na nossa privacidade ainda nem nascemos...

Agridoce disse...

Momentos fascinantes, esses que antecedem o parto e em que tentamos imaginar como vai sair a 'peça'...
Terá o feitio da mãe?(foda-se, espero que não!); Terá os meus lábios fantásticos que tantas paixões despertaram? (É melhor. Os galifões depois que se amanhem);
Terá as pernas e o rabo da mãe?(Foda-se, estou tramado!) E se a gaja vai ser podre de boa como eu era podre de bom?); terá os pés da avó materna? (Coitada da miúda, se nascer com essa cruz). E a inclinação para o alcool do avô materno? (aos 6 anos já apanhou o primeiro pifo de ginja...)
Montes de merdas que preocupam um gajo!