quarta-feira, 24 de junho de 2009

JÁ NÃO SOMOS ADULTOS

Muito interessante artigo na The New Yorker sobre a questão da paternidade. A autora ilustra a invenção deste novo “estado da vida” com base no percurso de uma revista norte-americana dedicada ao tema. Jill Lepore esclarece que “a noção de que a paternidade é um estado da vida distinto [dos restantes: adolescência, idade adulta, terceira idade, etc.], partilhado por homens e mulheres, está historicamente na infância”. No passado, ser-se adulto era algo que já incluía a paternidade. “Uma vida normal costumava ser assim: nascido numa família em crescimento, ajudava-se a criar os irmãos, tinha-se os primeiros filhos muito cedo, e morria-se antes do filho mais novo sair de casa.”

Depois as pessoas passaram a ter maior esperança de vida, a ter menos bebés e a adiar o início da própria família. E o conceito de casa familiar comum desagregou-se por causa da autonomia precoce dos filhos. Todas estas mudanças levaram a que “a paternidade se tornasse algo diferente, algo grande, algo planeado”. Por isso, chegada finalmente a hora, após muita ponderação e dúvidas, grande parte dos pais simplesmente não sabe como criar um bebé. Inexperientes e inábeis, ainda por cima podem ver vedado o auxílio dos avós, face à crescente dispersão geográfica familiar.

Arrepia o dado estatístico de que actualmente, nos Estados Unidos, as pessoas que criam crianças são uma minoria.

Dado o contexto, os pais andam todos inseguros à procura do melhor rumo nas questões da paternidade. Esta empatia provoca a proliferação dos blogues-bebés e dos livros escritos por pais e mães . Segundo a síntese de Jill Lepore, as mães procuram o perdão (por não conseguirem ser as super-mamãs que desejam) e os pais procuram o aplauso (por serem papás dedicados como nunca).

Por mim, as mães estão perdoadas. Tal como apontado no artigo, a nossa sociedade não tem dado resposta positiva às especificidades parentais. “A maior parte dos postos de trabalho estão feitos para pessoas que não têm de tomar conta de crianças. (...) Pede-se aos empregadores que acomodem a vida familiar de forma significativa, mas são os empregados que fazem todas as adequações, o que especialmente para as mulheres envolve fingir que, na verdade, não se tem família.”

E é assim que, na nossa sociedade “moderna”, vivemos cada vez mais divididos entre os que pertencem ao estado adulto e os que pertencem ao estado paternal, fruto de incompreensões e intolerâncias.

Quase que dá vontade de regressar à infância, não é?

4 comentários:

Morais disse...

Não sabias que tinhas um blogue Paulinho! Li alguns textos e de facto nota-se aqui toda a tua veia jornalística.

Também tenho um blogue, se por acaso algum dia te aptecer ir ler os disparates que aqui o teu priminho escreve, será um prazer receber-te no meu "cantinho".


Um Grande Abraço, Paulo!

Morais disse...

Sabia * ( e não sabias). Foi um lapso meu, peço desculpa.

Paulo M. Morais disse...

Welcome, primo. Entra e instala-te. Até posso ligar a PS2... mas não me apanhas a jogar contigo à frente da Maria. Ela ainda é muito novinha para assistir a humilhações do papá... ;-)

Morais disse...

LOOL. Obrigado Paulo! Mas tu tb lhe dás bem no pes. Além, de que eu agora estou super destreinado, pois nunca mais tenho jogado. Sabes como é q é esta vida dura do direito :P.